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Marcier Trombieri, Chefe da Assessoria de comunicação do Ministério das Cidades

Em entrevista à Agência ABCR, Marcier Trombieri, Chefe da Assessoria de Comunicação do Ministério das Cidades, fala sobre o aplicativo para telefones celulares, que tem como objetivo auxiliar na segurança do trânsito. O “Mãos no Volante” é uma ferramenta disponível para smartphones que evita o atendimento de ligações pelo motorista enquanto estiver dirigindo e informa a quem fez a ligação o motivo do não atendimento.

Agência ABCR – Como surgiu a iniciativa de criar um aplicativo que impede o motorista de atender o celular ou enviar mensagens enquanto estiver dirigindo?

O Ministério das Cidades e o Denatran lançaram o aplicativo para telefones celulares com o objetivo de auxiliar na segurança do trânsito. O “Mãos no Volante”

surgiu dentro da PARADA, que é o Pacto Nacional pela Redução de Acidentes no Trânsito. Entre os diversos estudos dos pontos críticos de ocorrência de acidentes, foi identificado que o celular é um dos mais ativos em crescimento. Nos EUA, registros de 2010, comprovam que cerca que três mil pessoas morreram em decorrência do uso do celular ao volante. Além disso, há um grande debate sobre segurança por conta da resolução da ONU que decretou a década de redução de acidentes de trânsito. Por isso, não podemos deixar de considerar esse tema dentro das nossas campanhas, do ponto de vista legal e do ponto de vista de conscientização, desencorajando quem tem o hábito de entrar no carro, ligar o celular e aproveitar o momento para colocar suas ligações em dia.

Agência ABCR – O senhor se refere a estudos feitos no Brasil?

No Brasil ainda não existem dados compilados que relacionem acidentes e uso do celular. Além disso, é muito difícil registrar estatisticamente o aparelho como motivo de acidente grave. Porém, é notório nas ruas, no trânsito, nas cidades e nas estradas, pessoas atendendo o celular.

Agência ABCR – Existem estudos internacionais que relacionam acidentes de trânsito com distração?

Os estudos sobre as consequências do uso do aparelho celular no trânsito ainda são bastante incomuns, porém os que já foram realizados alertam para o risco por ele causado, ressaltando não somente o abandono de uma das mãos, que influi na limitação motora do condutor, mas também pela perda de atenção no trânsito. Estudo realizado no Canadá determina que o uso do celular no trânsito aumenta em quatro vezes o risco do condutor sofrer acidentes. A pesquisa comprova também que os condutores que usam o aparelho de viva-voz correm o mesmo risco de sofrer acidentes do que aqueles que seguram o aparelho enquanto dirigem.

Nos EUA, a polícia acredita que 30% das colisões são causadas por distrações dos motoristas, que incluem dispositivos de comunicação móveis. Na Inglaterra, o governo está quase aprovando uma lei para banir a utilização do celular no trânsito, sem fone ou viva-voz. A Suíça e a Argentina, que ainda permitem o uso do aparelho de viva-voz, já estão pensando em proibi-lo.

Agência ABCR – Existe algum país, além do Brasil, que tenha proibido o uso do celular por motoristas?

Nos Estados Unidos, o Conselho de Segurança de Transporte Nacional recomendou, no final do ano passado, às autoridades que proíbam o uso do celular por motoristas, mesmo em modo viva-voz. Os norte-americanos não possuem regulamentação federal nesse sentido, apenas regulamentações abrangendo estados ou cidades. No Brasil, dirigir falando ao aparelho celular implica multa média de R$ 85,13, e soma 4 pontos na Carteira Nacional de Habilitação do infrator. Alguns estados americanos estudam a possibilidade de os veículos serem revestidos com uma proteção eletrônica que poderia impedir o funcionamento do sinal de celular dentro dos carros.

Agência ABCR – No Brasil, mesmo com a multa, muitos motoristas fazem uso do celular enquanto dirigem. Onde está o problema? Na regulamentação, na fiscalização ou é uma questão cultural?

É um complexo de todas essas três vertentes mencionadas. Do ponto de vista da fiscalização, a multa tem um valor muito baixo e não se consegue fiscalizar na medida do rigor que seria necessário para fiscalizar todos os motoristas que cometem essa infração. O próprio volume de multas já mostra que é um problema importante. Por outro lado, a questão cultural das novas tecnologias, não só o celular, mas de todos os aparelhos que nos colocam a par do mundo e nos ajuda a ter o conhecimento, de alguma forma, nos faz criar o hábito de tê-los como um importante instrumento de trabalho, de comunicação com a família e de comunicação com os amigos.

Outro ponto importante é que o Brasil tem 245 milhões de celulares cadastrados na Anatel. Ou seja, temos mais celulares que habitantes. Além disso, no Brasil, registra-se o crescimento da frota de mais de 5 milhões ano de veículos. Esses dois aspectos corroboram com o hábito de usar celular ao volante. Ou seja, é uma cultura incipiente, porque as tecnologias e o acesso são relativamente novos, e é onde queremos atuar, na questão cultural, de comportamento. Hoje existem várias questões comportamentais ligadas ao trânsito que foram muito bem-sucedidas, como a questão do cinto de segurança, do uso de capacete por motociclistas e a da faixa de pedestres em algumas cidades. Então, é importante que tenhamos uma ação ostensiva agora, diante da popularização do acesso ao celular. É importante uma ampliação dessa consciência para que isso não se torne de fato um hábito consagrado pelos motoristas.

Agência ABCR – O senhor acredita que a origem desse tipo de acidente esteja relacionada com a má formação do motorista?

No caso do celular, como as pessoas sabem que o código de trânsito não permite usa-lo enquanto dirige, não acredito que seja um problema de formação dos condutores; e sim de uma formação cultural de forma geral. Existem, por exemplo, vários estudos antropológicos sobre o condutor brasileiro. O antropólogo Roberto Damatta, por exemplo, apresenta um estudo sobre isso no livro “Fé em Deus e pé na tábua – Ou como e por que o trânsito enlouquece no Brasil”, que mostra os aspectos de obediência ou não aos regulamentos legais do trânsito. A saída seria um processo educativo e de criação da consciência do indivíduo de que o celular realmente tira a atenção do trânsito. É isso que nós buscamos. Buscamos não somente disponibilizar a ferramenta, mas também disseminar uma questão sobre a necessidade da não utilização e dos riscos que ele impõe.

Pesquisas sobre o tempo de utilização do celular mostram que um carro a 60 quilômetros por hora percorre um espaço de 20 metros por segundo. Com dois segundos de distração com o celular, percorre-se, portanto, um bom es paço de possível acidente, colisão ou atropelamento. A campanha do governo é para as pessoas que se acham capazes de atender o celular, sem causar risco no trânsito.

Agência ABCR – De uma forma geral, como funciona o aplicativo? É compatível com todos os aparelhos celulares?

Ao baixar o aplicativo na loja virtual, o motorista não poderá atender o celular enquanto estiver dirigindo.

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A ABCR poderá coletar informações para fins de confirmação da identidade do titular de dados solicitante, na medida de seu interesse e sua segurança.

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