Em entrevista à Agência ABCR, o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria, diz que a economia brasileira dá sinais de fraca atividade em 2014 (prevê crescimento do PIB de 1,9% este ano) e que o país deveria ampliar o programa de concessão e de privatização para modernizar a infraestrutura e aumentar sua competitividade
Agência ABCR – Como o senhor avalia o começo de 2014? Tudo ainda está muito incerto ou o ano já dá os primeiros sinais de como vai se comportar a economia brasileira?
Juan Jensen – O ano já dá os primeiros sinais de que será fraco de atividade econômica. Apesar dos primeiros meses terem vindo com números mais fortes, o quadro tende a ficar complicado. Ainda não temos nenhum número oficial, mas o próprio índice ABCR de março, a produção de automóveis, consumo de energia e papelão ondulado já mostram que março foi um mês ruim. Tivemos um começo de ano um pouquinho melhor, mas talvez isso seja reflexo da Copa do Mundo. O setor industrial pode ter antecipado parte da produção para compensar os dias de jogos e feriados. Então, temos que separar um pouco isso na hora de fazer análise prospectiva. Além disso, temos a eleição, uma incerteza colocada no caminho que afeta a atividade porque pode gerar quadros bem diferentes a partir de 2015, dependendo de quem vença em outubro. A partir do resultado é que o investidor vai saber qual será a política econômica, quais são as prioridades do novo governo, etc. Esse aumento de incerteza, que é natural num processo eleitoral, acaba contaminando a atividade econômica e jogando seu resultado para baixo.
Agência ABCR – Você poderia fazer uma avaliação mais detalhada do cenário econômico, que levou, por exemplo, o FMI a reduzir as projeções de crescimento da economia, este ano, e a Standard & Poor’s a reduzir a nota soberana do Brasil?
Juan Jensen – Na verdade, a redução do rating pela Standard & Poor’s está muito focada na piora na gestão fiscal do governo. Isso, de fato, vem sendo confirmado pelos números, já que houve um piora na gestão fiscal muito forte de 2012 para cá. Agora, o governo anunciou algumas medidas; não vai melhorar, mas acho que pior não fica. A questão é que os analistas tentam olhar para frente e não vêm previsibilidade, não têm confiança de que o que foi anunciado no quadro fiscal será cumprido por parte do governo. Nesse contexto é que entra o rebaixamento. Mas, na verdade, em termos de prêmio de risco, a economia brasileira já piorou faz tempo. O Brasil se descolou dos países que têm tido bom comportamento na América Latina e isso não é de agora, isso já tem aí pelo menos dois anos.
Agência ABCR – Mas o governo tem insistido na correção da política econômica. Pela sua análise, essa visão fica comprometida pelo que a realidade do dia a dia tem mostrado, é isso?
Juan Jensen – Pelo que a realidade está mostrando e pela baixa credibilidade da equipe econômica. Essa é uma equipe econômica que implementou ao longo dos últimos anos uma agenda que não funcionou, que não trouxe o resultado esperado. E não há um diagnostico por parte dessa equipe de que a política econômica é que estava errada. Na verdade, os ajustes estão sendo feitos agora porque as restrições são maiores hoje do que no passado. Uma delas era a possibilidade da redução da nota por parte das agências de risco. Mesmo os ajustes na área fiscal não foram suficientes para evitar o rebaixamento, que acabou acontecendo. Continuamos grau de investimento, mas, a verdade é que, se o próximo governo, a partir de inicio do ano que vem, não tiver um comportamento fiscal mais responsável, o Brasil vai perder o selo de grau de investimento. Isso complicará o quadro interno de atividade econômica e as pressões inflacionárias.
Agência ABCR – Qual a sua visão mais ampla da economia brasileira hoje?
Juan Jensen – Nós tínhamos até o inicio de 2011 uma economia baseada no tripé de política macroeconômica: cambio flutuante, sistema de metas de inflação e o superávit primário elevado. O governo foi desmontando essas três políticas, uma a uma. A política monetária não está mais focada na inflação, mas no crescimento; o cambio deixou ser flutuante e passou a ser muito mais administrado; e o setor fiscal passou a ser amplamente expansionista. Com a implementação dessa nova política, que o governo denominou de Nova Matriz Econômica, os resultados não vieram. Na verdade, vieram contra o que se gostaria: crescimento mais baixo e inflação mais alta. O maior problema, no entanto, é que o diagnóstico da equipe econômica não é que esse modelo não funcionou, mas que a crise global é que está fazendo com que o Brasil não tenha o desempenho que se esperaria desta política.
Mas, a partir do momento em que aparecem as restrições, de inflação mais alta, de pressões internacionais no sentido de desvalorizar o Real, como aconteceu ao longo do ano passado, e a própria pressão das agências de classificação de risco, o governo se assustou. Então, começou a subir os juros, a retirar as intervenções no câmbio e a interromper a política de expansionismo fiscal. Mas essas mudanças foram feitas sem muita convicção de que esse é o caminho, e como o governo também não tem o diagnóstico de que o que foi feito nos últimos anos estava errado, diminui justamente a eficácia dessas alterações. Tudo isso acaba justamente causando o aumento da incerteza, provocando a queda na confiança e fazendo com que a atividade econômica caminhe nesse ritmo fraco, quase que medíocre.
Agência ABCR – O que o índice ABCR tem apontado nesses três primeiros meses do ano? O maior problema está no mercado do trabalho, associado ao movimento dos veículos leves ou você vê que o principal problema na indústria, no caso representado pelos veículos pesados?
Juan Jensen – O comportamento mais fraco está na movimentação dos veículos pesados. Os resultados positivos de janeiro e fevereiro, que foram fortes, mostram duas coisas: primeiro, que a queda de dezembro foi refletida no plano da produção industrial, foi algo pontual, tanto que a atividade industrial, de fato, neste inicio de ano, foi melhor do que se esperava. Mas ainda assim quando a gente faz os dados de ano contra ano mostram as dificuldades da economia como um todo, principalmente da indústria, apontando uma expansão mais fraca. O índice de veículos leves, por outro lado, mostra um quadro razoavelmente bom, ainda, apesar da desaceleração do mercado de trabalho, que, tanto na questão do emprego quanto na questão da renda, mostra um quadro bem menos favorável do que o registrado nos últimos anos. Na verdade, o grupo de veículos acaba se beneficiando do aumento do estoque de veículos na praça. Mas esse fluxo de veículos pedagiado está condicionado ao aumento de renda. Se a pessoa compra um carro e não tem dinheiro para colocar gasolina e passear, ela não vai circular. No entanto, o fluxo de vei culo leves ainda tem mostrado um comportamento mais positivo do que a atividade econômica, estando acima da média do crescimento da economia brasileira.
Agência ABCR – Com base nesses resultados, quais as perspectivas para o restante do ano?
Juan Jensen – O que temos observado é uma certa fraqueza da atividade econômica, principalmente na industria, que vem apresentando difi