A Childhood Brasil é uma organização sem fins lucrativos, que luta por uma infância livre de abuso e exploração sexual há 13 anos. Ao longo desse período, a organização tem trabalhado estrategicamente e com excelência para enfrentar este problema de forma integrada com empresas, governos, organizações e comunidades. Buscando auxiliar o combate a esse grave problema, em 2007, a ABCR e várias de suas associadas assinaram o Pacto Empresarial Contra a Exploração Sexual de Crianças nas Estradas, integrante do Programa “Na Mão Certa”, proposto pela World Childhood Foundation (WCF) e pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Em entrevista à Agência ABCR, Rosana Junqueira, coordenadora de Programas da Childhood Brasil, apresenta balanço do andamento do programa.
Agência ABCR – A Childhood Brasil divulgou em 2011 uma grande pesquisa nas rodovias do país com o objetivo de traçar um amplo perfil do caminhoneiro. De forma resumida, quais foram os principais dados encontrados?
Rosana Junqueira – A pesquisa foi realizada em 2010 e lançada no início de 2011 e mostrou que os caminhoneiros estão mais conscientes em relação à exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA). Em 2010, 37% deles disseram saber que essa prática é errada e, por isso, são contra. Em 2005, apenas 20,8% responderam dessa forma. Além disso, conhecem mais as instituições e serviços como conselho tutelar, delegacia da criança e disque-denúncia. Houve uma diminuição no número de adultos envolvidos no sexo com crianças e adolescentes. Quando questionados diretamente se já saíram com crianças ou adolescentes, 82,1% disseram que não em 2010. Em 2005 esse índice foi de 63,2%.
Agência ABCR – Houve uma diminuição no número de adultos envolvidos com a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas?
Rosana Junqueira – Não temos dados sobre o envolvimento, mas conforme assinalado acima, houve um aumento no número de homens que disseram que a pratica é errada, em 2005 eram 20,8% e em 2007 o índice aumento para 37%.
Agência ABCR – Pela primeira vez, a pesquisa perguntou se os motoristas conheciam o programa Na Mão Certa. Do total da amostra quantos disseram que sim e como ficaram conhecendo o programa?
Rosana Junqueira – Da amostra aleatória, 19% alegaram conhecer o Programa Na Mão Certa. Destes, 20% conheceu o Programa por meio de materiais impressos, 19,6% pela empresa que trabalha, 19,6% em postos de gasolina, 6,5% em pontos de parada e 4,3% em eventos para motoristas de caminhão.
Agência ABCR – Ainda sobre a pesquisa, qual foi a avaliação e as principais demandas dos caminhoneiros sobre as condições das estradas?
Rosana Junqueira – As maiores demandas são sobre segurança, tempo que ficam longe da família e a má condição de algumas rodovias.
Agência ABCR – Como a entidade avalia o andamento das ações educativas que têm como objetivo a transformação dos caminhoneiros em agentes de proteção de crianças e adolescentes nas estradas?
Rosana Junqueira – As ações são implementadas pelas empresas signatárias do Pacto Empresarial de Enfrentamento a Exploração Sexual contra crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras. Cada empresa desenvolve o seu plano de ação para sensibilizar e formar os seus motoristas em agente de proteção. Desde o lançamento do Programa Na Mão Certa, em 2006, milhares de motoristas participaram em processos de educação e podemos afirmar, comprovado pela pesquisa, que um número maior de profissionais está sensibilizado e passou a atuar em defesa das crianças e adolescentes
Agência ABCR – Como está o mapeamento de pontos de risco e de campanha de prevenção nas estradas? Alguma novidade para 2012?
Rosana Junqueira – O Departamento da Policia Rodoviária Federal está realizando um novo mapeamento, que deverá ser lançado, provavelmente no 1º semestre de 2012.
Agência ABCR – Além das estradas, a Childhood Brasil tem outros focos de atuação. Quais são eles?
Rosana Junqueira – A Childhood Brasil desenvolve ações junto ao setor de Turismo, aos profissionais do Sistema de Garantia de Direitos, das empresas responsáveis por executar e gerir grandes obras de infra-estrutura, dentre outros.
Agência ABCR – Informar a sociedade continua sendo um passo importante para a conscientização e mudança de atitude frente à violência sexual infantojuvenil?
Rosana Junqueira – Sim. A informação viabiliza que a sociedade tenha meios para saber como agir, como denunciar etc.
Agência ABCR – Qual o papel da iniciativa privada no sucesso do programa?
Rosana Junqueira – O papel da iniciativa privada é fundamental. É por meio das empresas que o Programa Na Mão Certa tem acesso aos motoristas. São elas que difundem os conteúdos de sensibilização e formação, que viabilizam a transformação do motorista de caminhão em um agente de proteção.
Agência ABCR – Como as empresas do setor rodoviário podem ampliar a participação no Pacto Empresarial e no Programa Na Mão Certa, contribuindo mais efetivamente no combate à exploração sexual contra crianças e adolescentes?
Rosana Junqueira – A melhor maneira das empresas contribuírem com o enfrentamento é implementar ações focadas no atendimento dos compromissos assumidos ao assinar o Pacto.
Agência ABCR – Como o governo tem ajudado no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes?
Rosana Junqueira – A Secretária de Direitos Humanos tem uma coordenação responsável pelo Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, este núcleo desenvolve diversas ações e campanhas com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a causa, a proteção e a prevenção da criança e adolescente em situação de vulnerabilidade.
Agência ABCR – Como participar do Programa “Na Mão Certa”, como empresa, governo ou sociedade civil?
Rosana Junqueira – O Programa Na Mão Certa tem por objetivo, a reunião de esforços e mobilização de governos, empresas e organizações da sociedade civil para um enfrentamento mais efetivo à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras. As empresas participam por meio a adesão ao Pacto Empresarial, realizando ações que viabil izem cumprir os compromissos assumidos no Pacto. Mais informações podem ser encontradas no site www.namaocerta.org.br ou pelo email atendimento@namaocerta.org.br.
Crédito da foto: Giuliano Saneh