Agência ABCR – Quais as perspectivas da Tendências para a economia em 2011, levando em consideração os temas que têm aparecido com mais frequência na mídia, como corte do orçamento e retomada do processo inflacionário?
Juan Jensen – De uma forma geral, 2011 será um bom ano; mas com menos crescimento e uma inflação bastante pressionada, em linha com o que aconteceu em 2010. No ano passado tivemos um grande crescimento, mas a inflação também ficou acima do desejável. A questão é que o governo tem tomado algumas medidas para trazer a inflação para baixo, entretanto essas medidas não serão suficientes para que a inflação convirja já para patamares em torno da meta de 4,5% ao ano em 2011. O ano começou com uma inflação muito forte, conseqüência de aumento dos preços dos alimentos e das commodities, que subiram no mundo. Na verdade, porém, a inflação brasileira não é só isso. Ela reflete também um aumento da demanda doméstica muito forte e que tem pressionado o preço dos serviços.
Agência ABCR – Num prazo um pouco mais longo, podemos falar algo sobre 2012 e 2013?
JJ – Para 2012, teremos uma maior convergência da inflação e crescimento ainda sofrendo por conta das medidas de contenção do consumo. Quanto ao crescimento, deve ganhar fôlego entre 2013 e 2014. A perspectiva de crescimento para 2012 é um pouco mais baixa: estamos projetando, hoje, 3,9% para 2011 e 3,7% para 2012.
Agência ABCR – Em 2013 podemos ter uma retomada mais robusta?
JJ – Isso. Em 2013, entramos num ciclo mais positivo, com quedas nas taxas de juros e inflação dentro das metas; e teremos uma expansão fiscal um pouco maior, com a proximidade da Copa do Mundo e das eleições presidenciais. Então 2013 e 2014 tendem a ser bons anos de crescimento econômico; no fundo, estamos assistindo a arrumação dos exageros que ocorreram principalmente em 2010. Estão arrumando a casa, e isso tem o custo de menor crescimento no curto prazo.
Agência ABCR – Mas essas medidas, que não teriam a força de trazer a inflação para o centro da meta, não assustam o mercado?
JJ – Assusta. O Brasil tem um Banco Central que está operando de forma diferente do Banco Central do segundo governo Lula. Quando a presidente Dilma assume o Governo, ela salienta e reafirma o chamado tripé da política econômica, baseado em cambio flutuante, em política monetária voltada a um sistema de metas de inflação do Banco Central com autonomia operacional e geração de superávit primário para fazer com que a divida recue ao longo do tempo. Ela reafirma esses três pontos, mas, na pratica, o que observamos é uma certa deterioração desse tripé.
Agência ABCR – Você pode explicar melhor esse processo?
JJ – No campo da Política Monetária, especificamente, o Banco Central operava com bastante autonomia, já que o presidente Lula delegou isso ao Henrique Meireles (ex-presidente do Banco Central). É verdade que, em alguns momentos, o Banco Central pecou, como no ano passado, quando já se vislumbrava esse cenário inflacionário por conta dos excessos. Começou a subir os juros, mas parou antes da hora. Os reflexos são esses apertos na inflação, do final do ano passado ao começo desse ano. O resultado é que o Banco Central está tendo que apertar de novo a Política Monetária. Agora, os primeiros indícios apontam para um aperto aquém do necessário, seja porque está tomando outras medidas, como as chamadas medidas macroprudenciais, que têm efeito duvidosos sobre o mercado.
Agência ABCR – As medidas macroprudenciais são a redução de crédito…
JJ – Isso. Seria o aperto de crédito, mas com medidas regulatórias. Então, o Banco Central regulou a concessão de financiamentos para automóveis, pediu mais compulsório para algumas linhas de bancos, aumentou o IOF, enfim, está encarecendo o crédito, mas não porque os juros estão subindo, mas simplesmente porque está mudando as regras.
Agência ABCR – E quanto às metas de inflação?
JJ – O segundo ponto com relação à inflação é que o Banco Central está explicitando a aceitação de uma convergência da inflação de forma mais lenta. Isso não é bom, na medida em que os agentes de mercado passem a não acreditar que o BC vai perseguir o centro da meta ao longo do tempo, ou seja, a gente pode ter um processo de piora das expectativas de inflação para o ano que vem e ter uma autoridade monetária que não reaja a isso. Ou seja, no final das contas podemos ter um custo muito maior para trazer essa inflação para baixo, e por isso pode demorar a convergir, não ocorrendo em 2012 e só mais à frente.
Agência ABCR – E a deterioração no Campo Cambial e Fiscal?
JJ – No campo Fiscal, existe uma deterioração iniciada, muito forte, em 2009 e continuada em 2010, por conta da política expansionista contracíclica por conta da crise financeira internacional. Seria revertida em 2010, mas não foi por conta da necessidade de o Governo efetuar gastos no ano eleitoral. A reversão o governo anuncia agora, com o corte no orçamento. Mas, de fato, esse corte não existe porque não há redução de gasto em relação ao ano passado. Além disso, o Governo anuncia corte no orçamento, mas injeta dinheiro no BNDES. Quando ele coloca dinheiro num banco público, gera demanda. As empresas vão pegar esse dinheiro, consumir, investir. Isso num ambiente de pressões inflacionárias termina por impactar em grande medida a economia, ou seja, a deterioração fiscal que você teve não está resolvida.
Agência ABCR – E com relação ao câmbio?
JJ – No câmbio, o problema é que a flutuação está cada vez mais suja, ou seja, o governo continua a adotar medidas e aparentemente colocou um piso de apreciação para ataxa de cambio. Mas, as pressões continuam de apreciação no curto prazo, com a entrada de muito capital e a elevação das commodities. Com o dinheiro migrando para o Brasil, o Governo tem tentado evitar a apreciação do Real, colocando novos impostos, limitando esse fluxo. Assim, a questão que fica é que o câmbio não é tão flutuante assim, ele está mais para um câmbio fixo, hoje, do que para um câmbio flutuante.
Agência ABCR – Mas mesmo com um BNDES com recursos para emprestar não vamos inverter a tendência de que o poder público não consegue aumentar os investimentos em infraestrutura, certo?
JJ – Sim.
Agência ABCR – Então, o País continuará contando com a capacidade da iniciativa privada em ampliar seus investimentos, mas sem que o setor público consiga aumentar os seus. E isso?
JJ – É. Esse é um ponto, mas vale lembrar que o setor público está emprestando para infraestrutura privada via BNDES, mas está se endividando para fazer isso, porque não tem esse dinheiro. Para capitalizar o BNDES, precisa emitir dívida, a 12% ou 13% ao ano, repassa esse dinheiro para o BNDES, que empresta a 6%. Então, temos um spread, inclusive negativo na operação, e quem paga é a sociedade. Isso tem que ficar claro. É um financiame nto de investimento, mas com endividamento do Setor Público. Mesmo assim, o BNDES, por conta dos inúmeros projetos existentes, e pela restrição de capital, não terá condições de financiar a infraestrutura nos patamares dos últimos três anos.
Agência ABCR – E a contra-partida privada?
JJ – O problema da infraestrutura brasileira, pois conhecemos a situação dos aeroportos, portos e as estradas, poderia ser resolvido por meio de Concessão à in