Proposta do autor é coletar histórias e personagens da rodovia paranaense, revivendo seu trajeto e de milhares de outros que saíram do Interior para Ponta Grossa e Curitiba; Projeto literário conta com parceria da concessionária de rodovias CCR RodoNorteatravés da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura
O escritor paranaense Miguel Sanches Neto inicia nesta terça-feira (21) sua viagem para coletar histórias junto aos personagens da Rodovia do Café (BR 376), trecho que liga o Norte do Paraná (Apucarana) aos Campos Gerais (Ponta Grossa) e à Capital Curitiba. Em seu projeto, Neto fará o trajeto de 358 quilômetros em uma semana, fazendo dezenas de paradas em uma van adaptada como escritório literário. Seu ponto de partida será a Rodoviária de Apucarana às 8 horas e a chegada será na Rodoviária de Curitiba, no dia 28 de janeiro – ainda sem horário definido. O projeto Residência Literária na Rodovia é realizado com o patrocínio cultural da concessionária CCR RodoNorte, que cuida deste trecho, através da Lei Rouanet, e apoio da Fundação Cultural de Ponta Grossa.
Com novos olhares e em uma outra velocidade, Miguel Sanches Neto vai reviver o percurso que lhe levou da pequena Peabiru, no interior do Paraná, para Curitiba e depois Ponta Grossa, 30 anos atrás. O autor fará o trecho através da histórica Rodovia do Café – que hoje está bem diferente daqueles tempos. Para o presidente da CCR RodoNorte, José Alberto Moita, o apoio ao projeto colocará a rodovia e uma belíssima região do Paraná em um outro mapa, o da Literatura. “Acredito que o Miguel vai constatar uma coisa que nós, que vivemos a rodovia, sabemos: que a rodovia é um ser vivo. A gente a concebe, faz projetos, cria, cuida, ela fica doente e a gente dá o remédio, ela cresce e precisa de adequações. Além disso há toda uma cultura em volta dela, personagens que enriquecem a sua história e a humanizam. Caso dos andarilhos, por exemplo, que descansam sob os viadutos e pontes, sempre deixando uma mensagem curiosa”, sugere Moita.
Miguel, por sua vez, acredita que o aspecto simbólico da rodovia irá oferecer inúmeras abordagens e vai trazer realidades desconhecidas de quem apenas passa pela estrada, em velocidade, buscando seu ponto de destino. “Vamos fazer esta viagem em uma velocidade diferente, mostrando tudo o que há de interessante e que passa despercebido por quem não para paraobservar de perto o que se passa na rodovia. É também um trajeto autobiográfico, pois eu o fiz há muitos anos, de ônibus. Esta rodovia é muito importante para o Paraná e tenho certeza de que seremos surpreendidos neste projeto”, antecipa o escritor.
A Rodovia do Café
O projeto de Miguel Sanches Neto tomará forma entre os dias 21 e 27 de janeiro. Ele vai passar por 358 quilômetros, de Apucarana a Curitiba, através de 13 cidades e inúmeras comunidades, personagens e histórias. Ao longo de todo este trajeto, o escritor contará com o apoio da concessionária de rodovias CCR RodoNorte, que cuida de todo este trecho. Após modernizada, a rodovia agora está sendo duplicada.
Residência Literária
O projeto Muitas Margens inova o conceito de residência literária, em que um autor passar um período numa casa para escrever um livro. E tenta romper com a ideia de que um livro nasce apenas do isolamento.
O escritor tende a olhar o mundo a partir de seu escritório, que é o lugar de certa segurança sobre suas verdades. No escritório, o acúmulo da experiência e da leitura se traduz em histórias. Uma das maneiras de experimentar alguns deslocamentos, viver estranhamentos, é através da viagem.
Há muitos casos, na literatura universal, de escritores viajantes, que deixaram diários de bordos de grande relevância humana e artística. Numa época em que os deslocamentos são cada vez mais rápidos, a grande experiência da viagem está na atenção que se tem ao mundo em redor – neste trajeto ele terá o apoio da concessionária CCR RodoNorte, que também oferece apoio cultural à obra de Miguel.
Em 1982, Julio Cortázar e Carol Dunlop resolveram fazer uma viagem em ritmo lento entre Paris e Marselha, pilotando uma Kombi. Levaram um mês para percorrer o trajeto que duraria horas na velocidade das rodovias. Por meio da demora, eles descobriram todo um mundo e restauraram o ritmo dos viajantes das diligências. O resultado é o livro Os astronautas dacosmopista (Brasiliense, 1991).
Mais recentemente, o filósofo Alain de Botton foi contratado para ficar uma semana no aeroporto de Heathrow, em Londres, apenas observando os encontros e despedidas das pessoas. Ele construiu um olhar sobre a grande miscelânea da espécie humana que passa por esse lugar que é um dos centros do mundo moderno. Esta experiência de olhar filosófico sobre o tempo presente está registrada em Uma semana no aeroporto (Rocco, 2010). É com base nestas duas grandes experiências anteriores que o escritor e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa Miguel Sanches Neto fará esta viagem literária.
Sobre Miguel Sanches Neto: nasceu em 1965 em Bela Vista do Paraíso – Norte do Paraná. Em 1969, mudou-se para Peabiru, onde passou a infância. Fez o ensino médio no Colégio Agrícola de Campo Mourão (1980-1982). Cursou Letras na FAFIMAN (1984-1986). Especializou-se em Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba – 1989. Cursou o mestrado em Teoria Literária na UFSC (1990-1992). É doutor em Letras pela Unicamp (1994-1998) e professor-associado de literatura brasileira na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Foi Diretor-Presidente da Imprensa Oficial do Estado do Paraná (1999-2002), Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação (2003) e Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Culturais da UEPG (2006-2010). Estreou com Inscrições a giz (1991), vencedor do Prêmio Nacional Luís Delfino de Poesia de 1989. Cronista da Gazeta do Povo, escreveu mais de 800 artigos de crítica literária em jornais e revistas brasileiras. Recebeu, entre outros, os prêmios Cruz e Sousa (2002) e Binacional das Artes e da Cultura Brasil-Argentina (2005). Romances: Chove sobre minha infância (Record, 2000); Um amor anarquista (Record, 2005); A primeira mulher (Record, 2008); Chá das cinco com o vampiro (Objetiva, 2010) e A máquina de madeira (Companhia das Letras, 2012). Contos: Hóspede secreto (Record, 2003); Primeiros contos (Arte e Letra, 2008); De pai para filho (Scipione, 2010) e Então você quer ser escritor (Record, 2011).
Crônicas: Herdando uma biblioteca (Record, 2004); Impurezas amorosas (Leitura, 2006); e Um camponês na capital (Aymará, 2009). Poemas: Venho de um país obscuro (Bertran d Brasil, 2005); Abandono (2003); Pisador de horizontes (Editora UEPG, 2006) e Alugo palavras (Edelbra, 2011). Infanto-juvenis: Estatutos de um novo mundo para as crianças (Bertrand, 2005); Amanda vai amamentar (Bertrand, 2005); O rinoceronte ri (Record, 2006); Estatutos de um novo mundo para os animais (Bertrand, 2007); A cobra que não sabia cobrar (Global, 2006); Amor de menino (Record, 2008); A guerra do chiclete (Editora Positivo,