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Cesar Faccio, Coordenador da Reciclanip

A Reciclanip, entidade voltada para a coleta e destinação de pneus inservíveis (aqueles que não têm mais condições de serem utilizados para circulação ou reforma), recolheu e destinou de forma ambientalmente adequada 1,86 milhão de toneladas de pneus inservíveis, desde sua fundação, em 1999, o equivalente a 373 milhões de pneus de passeio. Em entrevista cedida à Agência ABCR, Cesar Faccio, coordenador da Reciclanip, fala sobre o modelo de gestão européia seguido pela entidade e um balanço dos resultados alcançados em 2011.

Agência ABCR – Como é feita a coleta dos pneus inservíveis? Depois que a Reciclanip coleta um pneu, para onde ele vai?

Cesar Faccio – O programa é desenvolvido por meio de parceiros, na maioria dos casos com prefeituras, que cedem um terreno dentro de normas específicas de segurança e higiene. Este local é usado para recolher e armazenar o material vindo de origens diversas, como borracharias, revendedoras e dos próprios cidadãos. Já são mais de 730 pontos de coleta pelo País. Também há casos de municípios pequenos que se reúnem para formar um consórcio e formar um ponto de coleta para mais de uma cidade. O responsável pelo Ponto de Coleta comunica a Reciclanip sobre a necessidade de retirada do material quando atinge a quantidade de 2000 pneus de passeio ou 300 pneus de caminhões. A partir daí, a Reciclanip programa a retirada do material com os transportadores conveniados.

Após a retirada, o pneu pode seguir para ser usado inteiro em fornos de cimenteira ou vai para trituração, onde pode ser reaproveitado de diversas formas, como combustível alternativo para as indústrias de cimento, na fabricação de asfalto ecológico, solados de sapato, em borrachas de vedação, pisos para quadras poliesportivas, pisos industriais e tapetes para automóveis.

Agência ABCR – Qual foi a quantidade de pneus coletados e destinados de forma ambientalmente correta em 2011? E desde a fundação da entidade?

CF – Em 2011, foram destinados 320 mil toneladas de pneus inservíveis, quantia que equivale a 64 milhões de unidades de pneus de carros de passeio. Desde 1999, quando começou a coleta pelos fabricantes, 1,86 milhão de toneladas de pneus inservíveis foram coletados e destinados adequadamente, o equivalente a 373 milhões de pneus de passeio. Desde então, os fabricantes de pneus já investiram US$ 159,8 milhões no programa até dezembro de 2011.

Agência ABCR – Por que seguir um modelo de gestão de empresas européias? Qual a principal diferença no que se refere ao modelo brasileiro?

CF – Quando a Associação Nacional da Indústria Nacional de Pneumáticos começou a pensar no programa, há mais de 13 anos, não havia nenhuma experiência no Brasil. Então tivemos que viajar para conhecer outras experiências. Depois de avaliar vários modelos, concluímos que o modelo que poderíamos seguir quase completamente foi o da organização francesa.

Agência ABCR – Quais as principais características do modelo adotado? Como ele funciona na prática de coleta de material?

CF – Funciona com pontos de coleta conveniados, cadastramento de empresas que trabalham com destinações aprovadas pelo IBAMA e gerenciamento de toda a logística necessária para coletar os pneus nos pontos de coleta e levá-los até seu destino adequado. Temos, por exemplo, pelo menos 60 caminhões rodando sete dias por semana, a qualquer hora do dia ou da noite. Num país de grandes dimensões como é o caso do Brasil, é normal que a logística seja complexa. Às vezes, coletamos pneus no norte do país e só temos um ponto de destinação adequado para eles, naquele momento, no sudeste ou centro-oeste. Faz parte das atividades da Reciclanip coordenar toda essa rede.

Agência ABCR – Quais os principais riscos para o meio ambiente no caso de pneus descartados de forma errada?

CF – Os pneus inservíveis descartados de forma errada contribuem para entupimentos de redes de esgoto e enchentes, poluição de rios, ocupam um enorme volume nos aterros sanitários e podem ainda ser foco para o mosquito da dengue. Se queimados de forma errada, geram poluição atmosférica. Um pneu costuma demorar mais de 150 anos para se decompor. Por isso, é fundamental investir em sua reciclagem. Ele não pode ser descartado na natureza.

Agência ABCR – Quais as principais formas de aproveitamento de pneus inservíveis no Brasil? Todas são aprovadas pelo Ibama?

CF – No Brasil, os pneus inservíveis são reaproveitados de diversas formas, como combustível alternativo para as indústrias de cimento, na fabricação de solados de sapato, em borrachas de vedação, dutos pluviais, pisos para quadras poliesportivas, pisos industriais, asfalto-borracha e tapetes para automóveis. Todas estas destinações são aprovadas pelo IBAMA como destinações ambientalmente adequadas. Hoje, grande parte dos pneus coletados vai para combustível alternativo usado nas cimenteiras. Para que seja ambientalmente correta, a queima deste material nas cimenteiras é cercada de todos os cuidados ambientais necessários, com o uso de filtros especiais. Presenciamos, no dia-a-dia, várias formas de utilização que não são aprovadas pelo IBAMA. No caso da Reciclanip, como ela presta contas de uma meta para o IBAMA, ela só trabalha com as destinações aprovadas pelo órgão.

Agência ABCR – Em relação aos benefícios ambientais, quais são as principais vantagens?

CF – Destinar adequadamente os pneus inservíveis significa um meio ambiente livre de um produto que pode causar sérios danos para rios e redes de esgoto, isso sem contar a proliferação de mosquitos da dengue. Por outro lado, utilizar os pneus para outros produtos, como combustível de fornos de cimento, diminui a exploração da natureza para extração de materiais que seriam usados se os pneus inservíveis não estivessem lá.

Agência ABCR – Entre as principais formas de aproveitamento, qual parcela corresponde ao processo de utilização da borracha reciclada de pneus em pavimentos asfálticos?

CF – De todo o material coletado, 36% são triturados e reutilizados para a fabricação de asfalto borracha, solados de sapato, borrachas de vedação, dutos pluviais, pisos para quadras poliesportivas, pisos industriais e tapetes para automóveis, entre outros. O que sabemos é que o asfalto borracha ainda é pouco utilizado de maneira geral. Estamos muito confiantes com relação ao crescimento de sua importância, no entanto. Estamos presenciando diversas leis municipais que priorizam o uso de asfalto borracha para a pavimentação de ruas feita pelos governos e isso é uma boa notícia. No Rio de Janeiro, por exemplo, o governador assinou, em julho de 2011, decreto que estabelece o uso do asfalto-borracha na pavimentação de rodovias estaduais. Diz o texto da lei: “As Entidades Públicas Estaduais responsáveis pela execução direta e ou contratação, por empreitada, de construção, reabil itação ou manutenção de infra-estruturas rodoviárias, devem adotar e prever, em seus orçamentos e planilhas de custos, a utilização, em pavimentos asfálticos, de misturas asfálticas com incorporação de asfaltos modificados, “in situ”, com borracha proveniente da reciclagem de pneus sem uso”.

Agência ABCR – Sabe dizer se existe hoje alguma legislação brasileira para direcionar os Departamentos de Estradas de Rodagem a investigar a possibilidade de utilização de m

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